Por Auguste Saudreau
São numerosos os exemplos de provações curativas na vida dos grandes amigos de Deus. Um dos personagens santos, no qual sobressai a obra purificadora da graça e os efeitos de transformação que ela produz, é o padre Olier. Ele alcançou um grau heróico no amor de Deus e um elevado grau de pureza, pela prática constante de virtudes admiráveis e por provações de toda sorte. Depois disso, o padre Olier foi reduzido a um estado de invalidez completa. Suas faculdades sofreram uma espécie de paralisia, sua inteligência ficou embotada, sua vontade ficou entorpecida. Aprendeu com isso a não ter mais confiança alguma em seu próprio talento, a não procurar apoio algum em suas qualidades naturais, e sim a tudo esperar do influxo da graça.
Deus lhe concedeu, então, o favor de uma união extraordinária com Jesus Cristo, que o fez participar, tanto quanto possível, dos atributos divinos. Dizia ele: "Eu sinto o comando de Jesus Cristo no emprego de minhas faculdades naturais e mesmo até na composição do corpo, que era outrora tão desregrada. Sinto agora o Espírito de meu Senhor que me dirige na minha atitude, na minha conduta, até nas minhas palavras. Em troca das trevas tão espessas de antes, tenho agora muitas luzes; em troca da confusão de meu espírito, tanta clareza em meus pensamentos; em troca dessa detestável e funesta preocupação de mim mesmo, sentimentos de amor e de elevação para Deus. Sou obrigado a confessar: é o Espirito divino que assim me penetra e me possui".
Raros são aqueles que alcançam, já nesta vida, uma união tão perfeita com Deus. Na maioria das vezes, a transformação apenas se faz pressentir enquanto a alma permanece na prisão do corpo. Inicia-se na via purgativa, desabrocha na via iluminativa, mas só se realiza na via unitiva, quando os dons do Espírito Santo operam abundantemente na alma. É aí que a alma será habitualmente esclarecida, abrasada, penetrada por esse divino Espírito, participando largamente das perfeições divinas.
Portanto, é principalmente em relação às almas unidas a Deus, que pode se aplicar a grande palavra de São Paulo, na segunda carta aos Coríntios. Diz ele: "Refletindo como num espelho a glória do Senhor, somos transformados nessa mesma imagem, com esplendor sempre maior". Essa imagem é a semelhança do Cristo; os traços de Jesus substituem pouco a pouco os nossos. E essa transformação se opera pela ação do Espírito Santo. A ação do Divino Espírito nos transfigura e nos leva a subir, de esplendor em esplendor.