Por São Luiz Maria Grignion de Montfort.
Nossas melhores ações são normalmente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós.
Quando se despeja água limpa em uma vasilha suja, que cheira mal, a água fica com o mau cheiro da vasilha. Do mesmo modo, quando Deus põe no vaso de nossa alma, corrompido pelo pecado, suas graças e orvalhos celestiais, estes dons divinos ficam normalmente estragados ou manchados pelo mau germe que o pecado deixou em nós. Nossas ações, até as mais sublimes virtudes, disso se ressentem.
É, portanto, de grande importância, para adquirir a perfeição, que só se consegue pela união com Jesus Cristo, despojar-nos de tudo que de mau existe em nós. Do contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e odeia infinitamente a menor mancha na alma, de jeito nenhum se unirá a nós.
Para nos despojar de nós mesmos, é preciso primeiro conhecer bem, pela luz do Espírito Santo, nosso fundo de maldade, nossa incapacidade para todo bem, nossa fraqueza em todas as coisas, nossa inconstância em todo tempo, nossa indignidade de toda graça, e nossa iniquidade em todo lugar.
Sabendo disso, não é de se admirar de ter Nosso Senhor dito, que quem quisesse segui-lo, devia renunciar a si mesmo; que aquele que amasse sua alma se perderia, e quem a odiasse se salvaria.
Para nos despojar de nós mesmos, é preciso que todos os dias morramos para nós, isto é, importa renunciarmos às operações das faculdades da alma e dos sentidos do corpo. Precisamos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, servir-nos das coisas deste mundo como se não o fizéssemos. “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só, e não produz fruto”, disse o Senhor. Se não morrermos a nós mesmos, e se as mais santas devoções não nos levarem a esta morte necessária e fecunda, não produziremos fruto que valha, nossas devoções serão inúteis, todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas por nosso amor-próprio e por nossa vontade própria. E Deus abominará os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer. Na hora da nossa morte, teremos as mãos vazias de virtudes e méritos, e não brilhará em nós a menor centelha do puro amor, que só é comunicado às almas mortas a si mesmas, almas cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus.
Entre todas as devoções à Santíssima Virgem, é preciso escolher aquela devoção que nos leva com mais certeza, a este aniquilamento do próprio eu. Esta será a melhor e mais santificante devoção.
Existe um caminho secreto, pelo qual, em pouco tempo, com doçura, com facilidade, é possível nos despojarmos de nós mesmos, encher-nos de Deus, e tornar-nos perfeitos.
Este segredo é: entregar-se a Maria, na qualidade de escravo seu.