Por Adolphe Tanquerey.
Em certa medida, Jesus quer divinizar os sofrimentos de seu corpo místico: de Maria, sua mãe; e dos homens, seus irmãos.
Tendo associado Maria, sua santíssima Mãe, à obra redentora, Jesus a associou também à sua imolação: não somente viveu, mas agiu e sofreu em Maria. Para dar a essa imolação um valor maior, ele faz suas as dores de sua Mãe, une-as às suas próprias dores e oferece tudo ao seu Pai pela salvação da humanidade.
Dessa forma ele eleva, enobrece, e, por assim dizer, diviniza os sofrimentos de Maria, unindo-os aos seus. Associa sua Mãe à sua obra redentora, dá-lhe a honra e o consolo de trabalhar com ele, de uma forma secundária, sem dúvida, mas ainda assim muito real e muito eficaz para a mais divina de todas as obras, a da santificação das almas.
Essa honra, ele a quis conferir também a todos os cristãos, embora em menor grau. Segundo São Paulo, na Carta aos Colossenses, todos nós somos chamados, como membros de Cristo, a completar em nós mesmos a Paixão do Salvador Jesus, e, em consequência, a sua obra redentora.
É claro que essa Paixão é, em si mesma, não apenas completa, mas abundante e superabundante. Mas, sendo Jesus a cabeça de um corpo místico do qual nós somos os membros, a Paixão desse Cristo místico se completa a cada dia pela de seus membros, nos quais ele vem sofrer, e somente estará terminada quando o último dos eleitos tiver sofrido a sua parte das dores do Cristo.
Ora, vindo sofrer em nós, o divino Redentor faz suas as nossas dores, enobrece-as e as diviniza em certa medida, fazendo-nos assim participar, como Maria, em sua obra redentora, ainda que em menor grau.
Cabe a nós colaborar generosamente com ele, aceitando com amor as cruzes que ele houver por bem nos enviar, não somente para nossa própria santificação, mas também para a de nossos irmãos.
A dor adquire, assim, um sentido, e nos tornamos então, verdadeiramente, colaboradores do divino Salvador na obra de salvação das almas. Tendo participado de seus sofrimentos na terra, participaremos um dia de sua glória, e assim a obra de nossa divinização estará completa.