A condição do orgulhoso tem qualquer coisa de terrível. Deus e todas as criaturas lutam contra ele. A ordem universal, que ele perturba, protesta contra a sua pretensão insensata, e na sua insolência ele enfrenta esta oposição.
O orgulhoso tem traços de semelhança com Satanás. Dizia Santo Afonso de Ligório: "Quando vejo uma alma pretensiosa, que se julga mais sábia, mais entendida, mais ajuizada, mais virtuosa que as outras, eu estremeço, pois me parece estar diante de um demônio encarnado".
O que é mais interessante e terrível é que o soberbo não se julga orgulhoso. É raro encontrar uma alma que avalie o seu justo valor; mais raro ainda encontrar uma que regule seus sentimentos e sua vida conforme essa apreciação. É necessária uma luz interior intensa para uma pessoa se ver tal como é na realidade: só os santos não se iludem sobre o seu valor. Quem não se aflige com uma falta de afeição, com um mau êxito, com uma humilhação? Quem não gosta de ser louvado, aprovado, apreciado, procurado? Quem não teme a censura, o esquecimento ou a ironia?
A alma humana, mesmo a mais sincera, sente uma profunda oposição contra a humildade, uma contradição permamente entre a boa opinião que faz de si mesma e o juízo que a eterna Verdade faz sobre ela.
Se os homens que julgamos ser os melhores se examinarem, eles mesmos hão de reconhecer que em quase todos os seus atos livres, há sempre uma busca desordenada do próprio eu. Eles mesmos se constituem, até certos limites, o centro de suas aspirações, de seus pensamentos e de toda a sua vida.
Que homem ponderado não se sentiria assustado, considerando uma desordem tão fundamental e tão permanente, produzida pelo orgulho?
Por Joseph Schrivers.