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Ninguém nos ama mais do que Deus. Ele faz com que a honra ao Seu Nome consista em nos fazer felizes. Ele é totalmente bom e o bem tende a difundir-se. Por isso, Deus tem um infinito desejo de fazer as almas se tornarem participantes de sua bondade e bem-aventurança. Sendo ele infinitamente feliz, sendo ele a própria perfeição, quanto mais intimamente uma pessoa se unir a ele, tanto mais perfeita e feliz se tornará. A perfeição a tornará feliz nesta vida, na morte e sobretudo na eternidade.

Vejamos como a perfeição nos torna verdadeiramente felizes nesta vida.

Como já vimos, a perfeição consiste na adequação da nossa vontade à vontade de Deus. Nessa conformidade, baseia-se também nossa felicidade, enquanto se pode falar de felicidade neste vale de lágrimas. A pessoa que se atém à vontade de Deus recebe tudo como um presente de sua mão, seja agradável ou desagradável. Está sempre contente, porque sente prazer em executar a vontade de Deus, mesmo em coisas que a contrariam. Até os sofrimentos lhe oferecem motivo de alegria, porque ela sabe que suportá-los com paciência agrada ao seu Senhor. Portanto, nada impede a sua felicidade.

Poderia haver maior felicidade para alguém do que ver realizados todos os seus desejos? Ora, quem deseja só o que Deus quer, vê realizarem-se todos os seus desejos, visto que tudo o que acontece é por vontade de Deus. Quando as almas que amam a Deus são humilhadas, recebem elas o que desejam; quando são pobres, amam a pobreza e assim se contentam com tudo o que lhes acontece e isso as torna felizes. Quando faz frio ou calor, quando chove ou venta, estão satisfeitas porque Deus assim o quer. Vem a pobreza, a perseguição, a doença, a morte, elas se contentam com a vontade de Deus. Desejam tudo isso porque descobrem nisso a vontade de Deus.

Essa é a santa liberdade de que gozam os filhos de Deus. Essa é a paz bem-aventurada, prerrogativa das almas puras, que excede todo o entendimento. Essa divina paz merece ser preferida a todas as festas, aos esplêndidos banquetes, às honras e alegrias terrestres de toda espécie. Ela supera imensamente todas aquelas satisfações que por frações de segundo satisfazem os sentidos, mas que afligem o espírito por serem vazias e passageiras e não trazerem verdadeiro contentamento.

Quem não ama a vontade de Deus, vive instável. Hoje ri, amanhã chora; neste momento mostra grande mansidão, daqui a pouco está furioso como um tigre. E por que tudo isso? Só porque seu humor depende de seu bem ou mal-estar. O justo, pelo contrário, permanece imutável, aconteça o que acontecer, porque acha seu contentamento em se acomodar em tudo à vontade de Deus.

Por Santo Afonso Maria de Ligório