Para o que diremos a seguir, considere a distinção entre obras de obrigação e obras de superrogação. Obras de obrigação são aquelas que cumprem um dever, por exemplo, jejuar nos dias prescritos pela Igreja. Obras de superrogação são aquelas feitas voluntariamente, sem que haja obrigação, por exemplo, jejuar em dias não prescritos pela Igreja.
A vontade de Deus significada consiste, em primeiro lugar, nos mandamentos de Deus e da Igreja, e nossos deveres de estado. Tais coisas devem ser objeto de nossa contínua e vigilante fidelidade, pois são a base da vida espiritual.
Alguém poderia pensar que as obras de superrogação, ou seja, aquelas obras que vão além do dever santificariam mais do que as obras de obrigação. Mas nada é mais falso. Santo Tomás ensina que a perfeição consiste, antes de tudo, no fiel cumprimento da lei. Por outra parte, Deus não poderia aceitar favoravelmente nossas obras super-rogatórias, executadas em detrimento do dever, pois nesse caso estaríamos substituindo a vontade de Deus pela nossa própria vontade.
A vontade significada abraça, em segundo lugar, os conselhos. Quanto mais os sigamos em conformidade com nossa vocação e nossa codição, mais semelhantes nos farão ao nosso divino Mestre, que é agora o nosso amigo e o Esposo da nossa alma, e que há de ser um dia o nosso Soberano Juiz. Os conselhos nos farão praticar as virtudes mais agradáveis ao seu divino coração, tais como a doçura, a humildade, a obediência de espírito e de vontade, a castidade virginal, a pobreza voluntária, a renúncia de si mesmo, a abnegação levada até o sacrifício e esquecimento de nós mesmos. Nesses conselhos, também encontraremos a consequente riqueza de méritos e santidade. Observando esses conselhos com fidelidade, afastaremos os principais obstáculos ao fervor da caridade. Os conselhos são a proteção dos preceitos. "O que basta não é bastante. A pessoa que quer fazer tudo o que é permitido, logo fará também o que não é permitido. Aquele que só faz o estritamente obrigatório, rapidamente não estará cumprindo suas obrigações".
A vontade significada abraça, enfim, as inspirações da graça. "Essas inspirações são raios divinos que projetam luz e calor na alma, para lhes mostrar o bem e para animá-las a praticá-lo; são presentes da divina predileção com infinita variedade de formas. Conforme as circunstâncias, são atrações, impulsos, repreensões, remorsos, medos saudáveis, suavidades celestiais, disparos do coração, doces e fortes convites ao exercício de alguma virtude. As almas puras e interiores recebem com frequência essas divinas inspirações, e convém muito que as sigam com reconhecimento e fidelidade". O apoio que essas inspirações nos dão é muito valioso.
Por Vital Lehodey.