Por Joseph Schrijvers.
Amar a Jesus de todo o nosso coração, fazer-nos semelhantes a Ele, eis o belo ideal da santidade. Mas esse reino de Jesus não se estabelece assim tão facilmente.
Quando Jesus se apodera da alma, infundindo-lhe o santo amor, não destrói nem desarma seu adversário, o egoísmo. Este adversário, ao contrário, embrenha-se na parte mais profunda da alma e resiste ao conquistador.
O domínio do egoísmo alcançou todas as faculdades do homem. A vontade se tornou frágil e propensa ao mal; a razão se obscureceu; a imaginação enlouqueceu; as paixões revoltaram-se; e os sentidos passaram a conspirar constantemente contra a alma.
Esse egoísmo teve tempo de se fortalecer durante anos. Todo o tempo, até ao momento em que a alma se decidiu a viver para Deus, foi consagrado a alimentar e fortificar o amor-próprio.
Assim, o egoísmo lançou raízes profundas nos hábitos e inclinações. Todo o nosso ser foi como que impregnado por ele. Todas as ideias que alimentam a inteligência, todas as representações que povoam a imaginação, tudo foi impregnado por esse veneno.
Mais ainda. Esse mal foi ainda mais agravado por tudo quanto rodeia o homem. As palavras do mundo louvam os que se dirigem segundo suas máximas e desencorajam quem busca a Deus.
Em suma, todos os esforços do demônio se dirigem para um único fim: fazer brotar a semente do egoísmo e abafar a semente do amor a Deus.
Mas não percas o ânimo. Se o adversário é forte, Jesus é ainda mais potente.
Antes de tudo, lembra-te de que foi Ele quem criou teu coração. Por mais corrompido que esse coração esteja, conserva uma certa nobreza, uma necessidade profunda de felicidade, de paz, de imortalidade. Uma sede de amor, que nenhum bem criado pode saciar. É por esses laços imperceptíveis, porém fortes, que Jesus chama as almas.
Além disso, Deus ingressou na alma do justo com a graça santificante. A Santíssima Trindade estabeleceu nela seu templo, e Jesus apossou-se de sua vida.
Uma vez que a alma se pôs resolutamente sob a direção desse Senhor todo-poderoso, Ele não desvia dela o olhar. Sua bondade se adianta à alma, a acompanha e a segue. Sua graça a sustenta, a reanima, a fortifica e a cura. Jesus é fiel. Por mais vigorosos que sejam os ataques infernais, Ele não permite jamais que esses ataques sejam superiores às forças da alma.
Jesus é generoso. Ele alimenta a alma com sua própria substância, e a alimenta todos os dias, se ela assim o quiser, purificando suas manchas, curando suas chagas.
Ele não se cansa de prodigalizar a abundância de suas graças, de suas inspirações, de seus encorajamentos. Não se cansa de dar a luz de sua doutrina, de suas advertências, e dos bons exemplos.
Ele dispõe em favor da alma, todos os acontecimentos, exteriores e interiores, as contrariedades, perseguições, aridezes, dúvidas e as ânsias da consciência. Tudo isso Ele faz reverter para o teu bem.
Ele lhe destina um anjo da guarda, incumbido de frustrar a astúcia de Satanás e de reanimar a alma, encorajá-la e estimulá-la ao bem.
Enfim, Ele confia a alma à sua Mãe querida, para ser amparada com sua ternura e solicitude maternais.
Oh, não te aflijas, minha alma, não temas. O Onipotente luta em ti. E luta por ti. Jesus não te abandona e te conduzirá para a vitória sobre o teu egoísmo.
Se és a causa da luta, és também o árbitro. O demônio nada pode contra ti, se tu não dás teu consentimento. Mas Jesus também é impotente, se não te confias a Ele. Ele criou tua vontade livre e não a violentará. Tu és o único que optará por Jesus ou pelo demônio, pelo amor ou pelo egoísmo, pelo prazer que podes proporcionar ao teu bom Deus, que morreu por ti, ou pela aflição que lhe causarás com a tua infidelidade.
A ti compete escolher, se pertencerás a Jesus, e até que ponto lhe pertencerás. Se serás um cristão comum ou uma alma de elite. Se arrastarás as correntes do teu egoísmo ou se alçarás vôo nas asas do divino amor.