Sobre a generosidade com que a alma se adapta ao querer de Deus, existem três graus:
O primeiro grau é quando o homem não deseja e nem ama as contrariedades, foge delas, mas prefere sofrer tais coisas do que pecar. Esse é o estado mais baixo de generosidade, e é um dever. De maneira que, ainda que um homem sinta pena, dor ou tristeza com os males que ocorrem, e ainda que gema quando está enfermo e dê gritos com a veemência das dores, e ainda que chore pela morte de parentes, pode com tudo isso ter essa conformidade mínima com a vontade de Deus.
O segundo grau de generosidade com a qual a alma se adapta à vontade de Deus ocorre quando o homem, ainda que não deseje as contrariedades, as aceita de boa vontade por ser da vontade e do beneplácito de Deus. De maneira que esse segundo grau acrescenta alguma boa vontade e algum amor ao sofrimento por Deus. A pessoa quer sofrer porque isso agrada a Deus. Enquanto o primeiro grau leva as contrariedades com paciência, este segundo grau acrescenta a prontidão e a facilidade.
O terceiro grau de generosidade diante das contrariedades ocorre quando o servo de Deus, pelo grande amor que tem pelo Senhor, não somente sofre e aceita de boa vontade as contrariedades que o Senhor envia, mas também as deseja e se alegra muito com elas, por ser aquela a vontade de Deus. É assim que os Apóstolos se regozijavam por ter sido julgados dignos de padecer ultrajes pelo nome de Jesus. E São Paulo exultava de gozo no meio das tribulações.
São Bernardo utiliza essa classificação da generosidade diante das contrariedades, relacionando-a com as clássicas três vias: dos principiantes, dos proficientes e dos perfeitos. Ele diz: "O principiante, impulsionado pelo temor, sofre a cruz de Cristo com paciência; o proficiente, impulsionado pela esperança, leva a cruz com gosto; e aquele que já está consumado na caridade, abraça a cruz com amor".
Por Vital Lehodey.