Pode parecer um detalhe semântico, inclusive usamos as duas palavras como sinônimos em tantas situações. Mas o próprio dicionário sugere que pode ter uma nuance aí, ainda que o sinônimo valha, sim. Ouvir e escutar, você acha, são a mesma coisa? É que a definição de ouvir está focada na percepção do som, no uso do sentido audição. A definição de escutar está focada na consciência do que se está ouvindo, na atenção dada àquilo que se ouve. Eu fiquei pensando sobre essa diferença de palavras depois das entrevistas deste episódio, então nas perguntas eu escorrego as vezes e uso ouvir e escutar como a mesma coisa mesmo. E tudo bem se você continuar a usar os verbos como semelhantes. Mas aqui a conversa vai focar na escuta, no sentido da percepção de sentido, da atenção ao dito e ao não dito. Porque quando a gente realmente está envolvido na conversa, no encontro, tem disso, né? O silêncio também está incluído na escuta. A ideia deste episódio nasceu da recorrência de uma sugestão por aqui. Em várias entrevistas, muitas vezes, as mulheres que ouvimos, debatendo temas diversos, falam em escutar como forma de acolher. Como forma de se conectar. Como forma de entender a si e o outro. E aí fiquei encucada: será que dá para aprender a escutar? Isso se ensina? E como a gente aprende? Porque, convenhamos, não é missão fácil, né? Bom, eu listaria aqui a disponibilidade para se relacionar, o que inclui a disposição de ser vulnerável e de chegar aos encontros de peito aberto, como um bom ponto de partida – ainda que nada simples. Mas as mulheres que se sentam à mesa com a gente dão outras tantas pistas valiosas.