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Vou pedir um pouco de atenção para esta sequência de números, estatísticas, dados. Informações que parecem estéreis, que muitas vezes não têm rosto – a gente vê os números e não vê as histórias. Mas estes números aqui contam uma história. Uma história que começou há muito tempo. As estatísticas que trazemos não têm nome, mas têm cor. Cor da pele. Ouça aqui: vou começar pelos dados mais recentes, que acabam de ser divulgados pelo IBGE. Entre a população pobre do Brasil (as pessoas que têm o equivalente a até US$ 5,5 de rendimento diário), sete em cada dez são pretos ou pardos. O Brasil tem 180 homicídios por dia, segundo o Atlas da Violência, e 75% dos que são mortos são negros. O mesmo Atlas conta que a taxa de homicídios das mulheres não negras cresceu 4,5% no Brasil entre 2007 e 2017; a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%. Em 2018, os trabalhadores pretos e pardos receberam, em média, cerca de 75% menos do que trabalhadores brancos. Isso significa dizer que para cada R$10 recebidos por um trabalhador preto ou pardo, um trabalhador branco recebe R$ 17,50. Também no passado, um quarto (25,2%) dos jovens brasileiros com idade entre 18 e 24 anos cursavam ou já haviam concluído o ensino superior; olhando apenas para os jovens negros, o índice cai para menos de um quinto (18,3%). Adolescentes de 15 a 17 anos pretos ou pardos apresentam taxas de abandono e reprovação escolar mais altas do que brancos. 54% das mortes maternas no Brasil ocorrem em mulheres negras. São elas também que registram mais casos de violência obstétrica, menos acesso ao pré-natal, menos acesso à anticoncepção e são também as mulheres negras que recebem doses menores de anestesia nos procedimentos médicos. Esse não é apenas um apanhado de números, na verdade, quero me corrigir, porque eu comecei dizendo que as estatísticas que eu trago não têm nome, mas elas têm: racismo. E racismo é o assunto de hoje do Elas com Elas. No episódio, a apresentadora Gabriela Mayer conversa com a advogada Amarilis Costa, presidente da Comissão de Graduação, Pós-graduação e Pesquisa da OAB-SP e articuladora do coletivo Preta e Acadêmica; Lorraine Carvalho, mestranda em direitos humanos na USP e supervisora do Núcleo de Atuação Política do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, IBCCRIM; Raphaella Reis, membro da secretaria-executiva da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP; e Thaís Santos, química, professora, co-fundadora da comunidade cultural Quilombaque, coordenadora da Uneafro Brasil e integrante da Coalizão Negra por Direitos.