Poesia em presença – Entre cenas, slam, spoken word e rap é um assentamento, um registro que lança mão da palavra como território. Corpos e corpas, resistindo à chacina de suas identidades ao longo de suas trajetórias, dão pouso à palavra através de significantes, significados, métricas, ritmos, musicalidades, velocidades, texturas e intensidades.A poesia falada e seus desdobramentos são tantos e tão vastos em nosso país que foi preciso fazer um recorte. Optei por referenciar as poéticas que me constituem como artista: o slam, o teatro, o spoken word e o rap. Nasci e fui criada na Rua 10, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, famosa pelas festas organizadas pela comunidade e pela minha família. Na minha primeira formação, aos 16 anos, na Escola Livre de Teatro, conheci o Primeiro Ato, uma banda de rap onde brotaram meus primeiros versos. No Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, aprendi e assimilei um conceito que carrego em todos os meus trabalhos, o de atriz-MC: sou agente da minha própria história e não preciso que ninguém a conte por mim; como diz Rappin’Hood: “eu to com o microfone, é tudo no meu nome”.Com o ZAP!, o primeiro slam do Brasil, nasce a Xouxou, minha personagem/presença que, em cima de um par de patins, auxilia na condução da competição, comentando de forma divertida e crítica (ri, mas não desacredita, não). Xouxou tem, ainda, a missão complexa de passar a visão de que a coisa mais importante de uma batalha de poesia não é a competição, mas, sim, o encontro e a celebração, um espaço para reafirmar nossa existência e tramar formas coletivas de sobrevivência.Que este chão aqui riscado nos lembre sempre da grande magia da construção coletiva: o encontro de nossos corpos, corpas e de nossas poéticas. Por outro lado, e não menos importante, ocupar e presentificar essa polifonia dissidente e periférica em um espaço institucional como o do Instituto Tomie Ohtake é mais do que necessário: é urgente que essas vozes ecoem para além de seus territórios de origem.O teatro, o slam, o spoken word e o rap têm em comum a presença, essa mandinga ancestral. É na presença que as poéticas ressoam, é na presença que a gira se move e acontece. Que neste tempo, onde tudo é tão tecnológico e virtual, possamos fazer da poesia presença e instrumento de cura a partir da potência do encontro.
Dani Nega