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Description

Os poetry slams, ou simplesmente slams, batalhas de poesia falada que emergiram nos Estados Unidos na década de 1980, estabeleceram-se como uma das mais democráticas formas de poesia performática em todo o mundo. Seu surgimento se deu como uma resposta à elitista ideia de que a poesia seria um gênero restrito a círculos acadêmicos, que pertenceria exclusivamente a um ou outro grupo social específico, ou mesmo que existiria somente como manifestação escrita. No Brasil, desde 2008 os slams de poesia têm se alastrado com grande impacto, principalmente entre o público jovem e periférico.A exposição Gira da Poesia – 15 anos de slam no Brasil chega a São Paulo depois de ter sido realizada no Museu de Arte do Rio – MAR pela Festa Literária das Periferias – Flup, que teve sua última edição totalmente dedicada à poesia falada. Agora, a Flup se junta ao Instituto Tomie Ohtake, que sedia e recria a Gira da Poesia, para celebrar esse movimento cultural, social e artístico, trazendo ao público um olhar sobre a trajetória do slam de poesia, desde sua chegada ao país até os dias atuais.Os primórdios em Chicago e Nova York, os antecessores saraus em São Paulo, o espalhamento pelas ruas do país, a criação de slams com recorte de gênero e outros novos formatos, a chegada nas escolas e nas universidades, os campeonatos estaduais, o nacional e os internacionais realizados no país são alguns dos eixos construídos por meio de recortes de memórias, depoimentos, flyers, folders, peças de vestuário, troféus e medalhas de campeonatos, fotos, vídeos, livros, zines, discos, recortes de jornal e algumas obras comissionadas. Entre as imagens, os registros poéticos do fotógrafo Sérgio Silva perpassam toda a exposição e colaboram de maneira decisiva na construção da narrativa.É um grande desafio contar uma história que pertence a tantas pessoas, com múltiplas facetas e particularidades, e que foi construída por vozes tão diversas. Por meio de um conselho composto por lideranças de comunidades de slam das cinco regiões do Brasil, a curadoria buscou identificar os momentos de destaque com os quais conseguíssemos estabelecer uma narrativa, trazendo a beleza do slam como uma grande gira poética, do ponto de vista da sua produção, circulação e recepção. O que foi compilado até aqui é uma visão, um recorte, já que essa é uma história viva, que continua em constante construção e expansão. Ela está sendo escrita, e sobretudo dita (muito bem dita!), a cada manifestação dessa voz coletiva, dessa voz-entidade que embala o tempo, que dança o ar e faz girar o agora. A cada vez que uma roda de slam é aberta e a gira da poesia acontece em algum lugar do Brasil.

Roberta Estrela D'Alva, Luiza Romão e Julio Ludemir